Desde a mais tenra idade ouvimos falar de perdão, ocasiões em que somos doutrinados a fazer uso do mesmo, se por ventura tenhamos sido ofendidos.
Crescemos ouvindo a importância do perdão no convívio social religioso e passamos aos nossos filhos idênticas recomendações. A mensagem cristã não economiza palavras para falar sobre o perdão e da sua importância em nossas vidas, de tal forma que se transformou numa crença religiosa, num dogma, contudo, sem a verdadeira prática da caridade. Definindo o que seja perdão, podemos dizer que é um processo mental ou espiritual capaz de diluir o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa, face uma ofensa recebida, fazendo cessar o desejo de castigo ou vingança.
Observamos que o ato perdoar nem sempre vem acompanhado da compaixão sincera, tendo se tornado uma obrigação que passa a ser exibida por quem “aparentemente” perdoa. Nesses casos, a essência da mensagem de Jesus sobre o ato de perdoar passa despercebida, e na grande maioria o perdão concedido não possui o exercício do amor e nem da compaixão. Cada vez que pronunciamos a prece que Jesus nos ensinou, pedimos perdão por nossas falhas, afirmando que perdoaremos do mesmo modo nossos ofensores. Será que concedemos o perdão da mesma forma que queremos ser perdoados? Queremos receber o perdão de outrem de forma plena, onde o coração tenha participado, cheio da compaixão. Mas, quando é chegada a hora em que devemos perdoar, muitas vezes só exercemos o perdão por palavras, enquanto que nosso coração mantém o rancor. Perdoamos condicionalmente, fazendo exigências, ou exibindo ao mundo nossa generosidade para nos enaltecer ou alimentar nossa vaidade.
Só aquele que aprendeu a amar sabe perdoar. O perdão genuíno, incondicional, generoso que se processa em nosso interior é o perdão pregado pelo Mestre Jesus. O perdão sincero que esquece totalmente o ato ou atitude do perdoado e suas ofensas brota do coração e preserva o amor próprio do ofensor, evitando sua humilhação. Há aqueles que entendem que o perdão traduz fraqueza, vez que não atingiram a compreensão de que aquele que perdoa possui uma força interior imensa. O ato de perdoar com o coração é concedido sem qualquer expectativa de compensação, podendo, inclusive ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento. Muitas vezes o perdão é concedido à uma pessoa que não pertence mais à este mundo ou que mora em lugar longínquo e que nunca mais terá contato com aquele que lhe concede o perdão.
Enquanto não perdoamos, continuamos alugando nosso sagrado interior aos inquilinos do ódio, da raiva, da culpa e da mágoa. Nossa casa interior encontra-se maculada por esses venenos que impedem o florescer do verdadeiro amor. Quem odeia não sabe vislumbrar o ponto de vista alheio. Se nos situarmos no ponto de vista alheio, aprenderemos a perdoar e conseqüentemente a amar. Porém, se não somos capazes de perdoar, não sabemos amar.
A religião, de modo geral, prega o perdão. Passamos, muitas vezes a exercer o perdão de forma automática. Perdão automático não é perdão, pois, o ressentimento continua inquilino do coração, sufocado, reprimido. É o famoso “eu” orgulhoso e obstinado. Enquanto o “eu” não for eliminado através da compreensão, não se torna possível perdoar de verdade. Perdoar na verdadeira acepção da palavra, nos moldes ditados pelo Mestre Jesus, implica em fazer o despejo do inquilino, eliminar o “eu” do ressentimento, da raiva, do desejo de revanchismo que habita nosso interior.
Abrindo espaço em nosso interior, deixamos de perder nossas energias gastas ao alimentar as feridas do passado. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente que nos liberta, que abre a porta e as janelas da alma, permitindo-nos viver bem, com caminhos livres, abertos para a felicidade.
Com amor,
Irmão Savas