Era um dia quente em que o por de sol presenteava o céu com matizes suaves e suave era a brisa que entrava pela janela onde Jesus se encontrava debruçado. Olhos perdidos no horizonte, ele contemplava aquele cenário preparado pelo Pai. O suspiro que exalou era um atestado de saudade da Casa Paterna. Deixou a janela e voltou os olhos ligeiramente melancólicos aos discípulos que silenciosamente o esperavam.
Sobre os protestos de alguns, principalmente de Pedro, Jesus passou a lavar os pés de seus discípulos, num gesto de doação e humildade. A toalha branca jogada em seu ombro serviu para secar com carinho os pés dos apóstolos tão cansados da caminhada. Com tal atitude, Jesus demonstrou que todos os homens são iguais, contudo, passa a ser maior aquele que serve.
As páginas do tempo foram viradas e o livro da vida registrou a lição do Nazareno. É comum em nossos dias ainda escutar que “maior é aquele que serve”. Contudo, poucos entendem o que o Mestre pregou, vez que desde pequenos fomos ensinados que o melhor, o mais importante é ser servido e não servir. Essa é nossa cultura, esses os valores que pesam e fazem diferença no mundo materialista. Como principal oponente ao ato de servir, encontramos o ego. Palavra tão pequena, mas, de um poder extraordinário. Um exame mais profundo nos levaria a entender que o ego, essa palavrinha oriunda da língua latina e que em nosso linguajar significa “eu” é a responsável por inúmeras situações que ocorrem em nosso conturbado mundo. O ego, nascido como egoísmo, nada mais é que um amor próprio excessivo, que leva o indivíduo a olhar unicamente para os seus interesses em detrimento dos direitos alheios.
Vencer o ego, ou vencer à si próprio, só se torna possível se o amor entrar nessa batalha. Talvez por isso, o dito popular de que “só o amor vence” é sempre lembrado. A expressão, porém, merece um retoque e ficaria melhor se disséssemos que só o amor verdadeiro vence”. O amor não se aprende no banco escolar , nem nos livros de filosofia. Amar se aprende amando. É necessário um esforço consciente e gigantesco para mudar nossos padrões sobre o amor. Necessário se torna que sejam empregados esforços deliberados em direção da autocompreensão e do desenvolvimento interior. No início, permanecer nesse caminho é um esforço heroico, mas, com o tempo aprendemos a amar mais e melhor.
Amar mais e melhor é um percurso que se inicia e que não tem volta. O sentimento do amor legítimo é gratificante . Quem ama se torna melhor. Sentindo-se melhor, quem ama, para preservar esse sentimento, passa a praticá-lo naturalmente. Deixa de negociar o amor. Não tem mais exigências, não espera mais resposta do ser amado.
Servir, portanto, é um ato nascido do amor autêntico, da renuncia ao ego. Quem aprende a servir, passa a exercer a compaixão, filha legítima do amor. Quem atinge esse patamar de compreensão, exerce silenciosamente o ato de servir. Não precisa de ninguém para testemunhar ou aplaudir. Quem ainda necessita de demonstrações ao servir, não conhece o amor incondicional, pois só ama só a si próprio. A recompensa esperada por aquele que ama é, tão somente, a alegria interior. Nossa alma sorri diante do desapego, pois, está curada. O caminho para a cura interior tem início com a investigação e o conhecimento de nós mesmos. Isso, porém, falaremos outro dia, pois, no momento torna-se necessário um mergulho em nosso interior para exame do quanto servimos neste mundo, à quem servimos e qual o sentimento que nos trás o ato de servir.
O passaporte para a cura interior nos será deixado aqui nesta página. Na bagagem que carregaremos pelo caminho, não poderemos esquecer de colocar a paciência, a boa vontade e a perseverança. Cultivando esses estados mentais positivos, seremos, com certeza, conduzidos à uma melhor saúde mental e conseqüentemente à felicidade.
Com amor,
Irmão Savas