Que a paz esteja contigo, meu irmão.
Se tiveres paz interior, teu sorriso estará aberto à todos e tua mão será forte e estendida à quem necessita de amparo. O resto? Daremos um jeito de aprender e praticar, uma vez que o aprendizado nos leva a sabedoria.
- Hoje, de forma diferente da habitual, iniciaremos nossa conversa com alguns questionamentos, pois, através deles poderemos estar mais preparados para falar sobre o mentiroso. Vamos lá?
Sabes que és de certa forma responsável pelo mentiroso e que aumentas o sofrimento do mesmo quando lhe pões à prova?
- Tens conhecimento de que é falta de caridade ridicularizar o mentiroso e lhe apontar com desprezo as mentiras que lhe são descobertas? Que assim nada ensinas e sim só humilhas?
- Se pretendes melhorar o caráter do mentiroso, de que forma lhe mostras esse defeito? Amorosamente ou acusadoramente?
Feitas essas perguntas, vamos relembrar que caridade não é só ofertar o pão dormido a quem tem fome. Caridade é mais que isso, muito mais. Ser caridoso também é encolher o dedo acusador e esticar os braços da alma para receber àqueles que ainda não conseguem vencer seus próprios defeitos por falta de oportunidade. E quem descobre a forma de vencer seus próprios defeitos tem o sagrado dever de repassar o aprendizado ao outro, pois, o Mestre Jesus deixou dito que “a quem muito foi dado, muito será cobrado”.
Voltando ao nosso personagem principal de hoje, precisamos descobrir se ele padece de uma doença chamada “mitomania” ou se é apenas um mentiroso compulsivo. A Mitomania é uma doença causada pelos conceitos destorcidos, irreais ou até delirantes, dos modelos fundamentais de uma pessoa, levando-a a uma tendência doentia para a mentira. Abro aqui um parêntese, meu irmão, lembrando-o que há pouco tempo atrás, conversamos sobre o mal-humorado, e identificamos o mesmo como portador de uma enfermidade, um transtorno psíquico. O mau-humor e a mentira são duas das inúmeras doenças, ou transtornos de personalidade que pode desenvolver o ser humano.
O mitomaníaco, pois, é aquele que convive com um passado irreal, inexistente, com o propósito de fugir dos problemas, que evita mexer na ferida que lhe afetou uma vida inteira. O grau dessa doença é proporcional ao tamanho do sofrimento que a pessoa tem.
Entre a mitomania e o mentiroso compulsivo existe uma diferença considerável. Enquanto o mitomaníaco mente, tão somente, em assuntos específicos, o mentiroso compulsivo mente por mentir, por puro vício. Exemplificando, um mitomaníaco mente sobre o perfil de seus pais, e seu passado para se engrandecer, enquanto que o mentiroso compulsivo, mente sem motivo algum.
O mitomaníaco é inseguro por ter sua própria identidade e vida arquitetadas por uma realidade imaginária. De tanto viver essa situação por ele criada, acaba até por acreditar que é verdadeira.
A ocorrência desse transtorno psicológico aparece geralmente entre os dez e treze anos de idade, período esse no qual o indivíduo passa a desenvolver sua saúde mental, a qual é retratada pelo equilíbrio existente entre seu mundo interno e seu mundo externo. É nessa época em que cada um de nós aprende a formar seus conceitos pessoais, suas opiniões e seus relacionamentos formais.
Não podemos nos alongar demais e discorrer aqui sobre as diversas causas que levam uma pessoa a desenvolver a mitomania. Se o assunto despertar teu interesse, faça uma pesquisa sobre o assunto. Mas, de antemão lhe aponto a contradição em que os adultos caem ao dizer que não se deve mentir e assim o fazem com terceiros em frente da criança em formação que a tudo assiste e registra.
É oportuno que ainda se aponte o excesso de imaginação de uma criança que é aplaudida ou ainda encorajada a crer em suas próprias fantasias. Procure entender que quando ela inventa, tem delírios, quando mente ou descreve algo distorcido, mesmo na fase adulta, está apontando para uma ferida interior, que ela não quer que ninguém descubra, ninguém encoste para não aumentar seu sofrimento.
Como vês meu irmão, precisamos exercer a prática da caridade cristã que nos remete a compaixão antes do julgamento. É muito difícil abordar um mentiroso sem atacá-lo. É comum encontrar aqueles que sentem prazer em desmascará-lo, deixando-o numa situação vexatória. Quando isso ocorre, aquele que mente, sentindo-se encurralado passa a se valer de novas invenções para atestar a veracidade de sua primeira afirmação. Logo, se não tiver o intuito de correção, constranger o mentiroso só fará com que pioremos sua situação.
Desse modo, devemos amorosamente corrigir o mitomaníaco, fazendo-o observar e descobrir o motivo que lhe leva a mentir e o quanto isso é prejudicial à si e aos outros com quem convive.
Aos poucos, quando tratado com sutileza, o mentiroso passa a perceber o quanto é bom e gratificante falar a verdade, resgatando, inclusive, a dignidade perdida. Tal recomendação também se encaixa perfeitamente ao mentiroso compulsivo, lembrando que ambos sofrem por possuírem essa característica de personalidade.
E por fim, relembrando a lição que o Mestre Jesus deu aos homens que queriam apedrejar Maria Madalena, quem nunca mentiu, atire a primeira pedra.
Com amor,
Irmão Savas