Abençoado Irmão,
Em nossas crônicas muito temos falado em viagem e em jornada interior. É sobre essa viagem interior que ainda conversaremos nesta oportunidade, dando seqüencia aos estudos sobre o conhecimento de nós mesmos. Creia, meu irmão, o segredo da paz interior reside no conhecimento de si mesmo. Através dele chegamos à Deus, através dele aprendemos a amar a nós mesmos e ao nosso próximo nos moldes pregados por Jesus.
Para a realização de nossa jornada interna precisamos fazer uso de símbolos ou alegorias, os quais facilitarão a compreensão do assunto de um modo mais descontraído. Por isso, faremos uso de uma alegoria onde vamos representar nosso corpo físico como se fosse uma carruagem. Puxada por cavalos que representam nossos sentimentos e emoções, a carruagem terá um cocheiro representado por nossa mente que é encarregada de dirigir a diligência e os cavalos. A carruagem transportará em seu interior um passageiro muito especial que é o “Eu” Real, a nossa essência que tem a proteção de um guardião da luz, o protetor espiritual.
Repetindo para gravarmos: os cavalos representam as emoções e sentimentos que jogam o homem de lá para cá em caminhos difíceis e tortuosos. O cocheiro representa a mente do homem que é encarregada de dirigir a carruagem e os cavalos. A carruagem representa o corpo físico do homem.
Nas pessoas comuns essas partes que acima mencionei nem sempre se encontram harmonizadas e bem por isso o cocheiro tem dificuldades com os arreios que conduzem os cavalos. O passageiro dentro da carruagem não consegue dar ordens ao cocheiro e por isso ela segue em velocidade descontrolada num itinerário que ninguém projetou, até que um dia chegue a morte. Por vezes, o próprio cocheiro está intoxicado pelas razões que falaremos na continuidade desta conversa informal, por isso a direção da carruagem é traçada pelo guardião da luz até que brilhe a centelha interior do homem.
É importante que se observe através da analogia acima mencionada que as tres figuras apontadas, quais sejam: a carruagem (corpo físico), os cavalos (sentimentos) e o cocheiro (mente) não estão se relacionando corretamente umas com as outras fazendo que os cavalos disparem, quando, em bom relacionamento os cavalos trotariam como se estivesse num desfile ou num cerimonial de uma rainha.
Digamos que em sentido figurado o cocheiro esteja se embriagando numa taberna e afastado da boléia, enquanto que os cavalos não estão corretamente alimentados, e os arreios não estão devidamente amarrados à carruagem e esta encontra-se em más condições de conservação. A viagem, como não poderia ser diferente, será um desastre. É preciso, pois, dar um choque no cocheiro para que desperte e assuma suas funções.
Uma vez desperto, o cocheiro poderá desejar subir para boléia para assumir o controle da situação, contudo, esse despertar precisa ser realizado em diversas etapas. Precisa num primeiro momento ser sacudido para que desperte de sua embriaguez. Num segundo momento ele deverá se levantar, sair da taberna/bar e prestar atenção ao cavalo faminto e a carruagem que necessita de manutenção. Uma vez realizadas essas providências vem o terceiro passo que será subir até chegar à boléia, tomar as rédeas nas mãos e conduzir a diligência da melhor forma que puder.
A alegoria que usamos aqui ainda admite um terceiro momento ou passo, qual seja, a entrada em cena do Amo (Eu Real) que auxiliado pelo guardião da luz talvez apareça sentado na carruagem e passe dar a dar ordens ao cocheiro indicando-lhe o caminho a ser seguido. Contudo, o Amo jamais poderá sentar-se na carruagem sem que o cocheiro esteja a postos na boléia, com as rédeas nas mãos e tenha alimentado o cavalo e consertado a carruagem.
Como vimos na alegoria da carruagem, do cavalo e do cocheiro não poderemos jamais alcançar o nível onde existe o Amo ou nosso Eu Real ou escutar sua voz, salvo se despertarmos do sono em que nos encontramos. Precisamos primeiro acordar o cocheiro, pois, caso contrário ninguém cuidará do cavalo e da carruagem.
Deves estar te perguntando, meu irmão, como podemos acordar o cocheiro? Que tipo de choque daremos no cocheiro para ele acordar? Se o cocheiro se der conta que está dormindo, isso será suficiente para que desperte? Com o que se embebedou o cocheiro?
O cocheiro se embebedou pela própria imaginação. Vivemos ébrios de imaginação, produto do “Eu” Imaginário. Temos a crença que possuímos um Eu Real e, no entanto, estamos diluídos em inúmeros “eus”. Cremos ser pessoas conscientes, verdadeiras, que não experimentam qualquer mudança que somos permanentes, com vontades próprias. Contudo, ainda estamos longe de possuir um “Eu Real vez que é a imaginação que cria esse “Eu Imaginário. Esconde em si mesmo sua debilidade interior através da imaginação.
O Eu Real é o verdadeiro Amo que se encontra no interior da carruagem. É ele que nos diz que precisamos mudar, pois, do modo que somos, sem estabilidade emocional, o Eu Real não pode despontar. Desse modo, meu irmão, é necessário que cada um encontre seu Eu Real, através de uma grande busca interna, através da Lembrança de Si Próprio.
Se um homem chega a compreensão que não tem “Eu” Real, nem Vontade Real, que tudo aquilo que sentiu e pensou até então a esse respeito sobre si mesmo é chamado simplesmente de “Eu” Imaginário, pode finalmente despertar da sua embriaguez na taberna, onde gasta o seu dinheiro em imaginação. É, pois, o homem despertando de seu estado de sono, dando-se conta que está a dormir por causa da bebedeira de sua imaginação.
Quando um homem desperta do sono, começa a lembrar-se de si mesmo, de seu Eu Real. Ele passa a perceber algo maior e mais profundo, que eventualmente levará ao “Eu” Real, que é a nossa verdade. Porém, a imaginação tem um grande poder, a tal ponto que as pessoas desejam continuar no sono em que se encontram. Não desejam despertar, nem mesmo desejam experimentar por um instante sequer, o sabor ácido que trazem os momentos de maior consciência. Assim, é mais fácil sufocá-lo, ainda que seja intenso o sofrimento e desinteresse pelas questões da vida normal. Preferem continuar carregando o fardo do desencanto do que renunciar a vida falsa em que vivem. Preferem o desencanto ao esforço de enfrentar o despertar deixando a taberna para assumir a boléia de sua carruagem.
Temos visto tantas pessoas aborrecidas com a vida, reclamando, sofrendo com uma coisa ou outra, contudo, continuam a carregar seu fardo quando poderiam olhar para dentro de si mesmas descobrindo a forma de despertar. Acham tão difícil levantar e deixar a taberna em que se encontram e ocupar o lugar que lhe cabe no comando de sua própria carruagem.
Ora, se olharmos com atenção para dentro de nós, veremos que nada temos para sacrificar, a não ser nossas emoções negativas, nosso sofrimento negativo, nossas depressões e lamentações. Só podemos sacrificar aquilo que amamos e não aos sentimentos e emoções negativas. Pintamos telas de nós mesmos onde nos atribuímos coisas que só existem em nossa imaginação. Logo, se inexistem, não há o que sacrificar. Contudo, estamos tão amoldados ao nosso sofrimento, a nossa mágoa, a nossa tristeza, aos nossos estados negativos, que aí temos algo para sacrificar, para que a orientação do nosso amor possa ser transformada. No entanto, as pessoas se embriagam com o seu próprio sofrimento e intimamente sentem uma profunda pena de si mesmas.
Todo esse estudo que vimos fazendo tem como finalidade uma maior Consciência de Si, a Lembrança de Si, a Percepção de Si , enfim, o autoconhecimento.
Para despertar, para acordar do sonho em que vivemos, para vivenciar a felicidade real precisamos deixar de ter ilusões e falsa imaginação, através de constante treino realizado pela observação de nós próprios. Só assim , deixaremos de estar separados de nós mesmos e prontos finalmente para deixar a taberna em que vivemos.
Com amor,