Meu abençoado irmão,
Muito temos conversado sobre a necessidade que tem o homem de conhecer a si mesmo para poder atingir uma consciência superior, obtendo assim, a tão almejada paz e conseqüentemente, a felicidade. O estudo de si mesmo é bastante complexo, necessitando de divisões como se o homem fosse uma máquina composta de inúmeras peças, cada qual com uma função distinta. Essa máquina humana, dentre as muitas divisões que possui, encontramos uma bastante especial que difere das demais, merecendo, por conseguinte, nossa cuidadosa atenção. Portanto, hoje falaremos sobre ESSENCIA e PERSONALIDADE.
Quando nascemos, trazemos conosco nossa essência, enquanto que a personalidade vamos adquirindo-a no decorrer de nossos dias sobre a Terra. Assim, podemos dizer que a essência somos nós mesmos enquanto que a personalidade é uma vestimenta que cobre essa essência. Nossa vida interior, todas nossas percepções e reações dividem-se nessas duas partes, quais sejam, essência e personalidade.
Quando “desembarcamos” neste Planeta, trouxemos em nossa bagagem determinadas características físicas, condições de saúde, capacidades inatas, talentos, tendências, inclinações e tantas outras particularidades que pertencem à essência de cada um. A personalidade, contudo, não nasce conosco. Vamos construindo-a de acordo com o ambiente em que vivemos, a escola que freqüentamos, as idéias, opiniões e palavras que escutamos. Podemos dizer, portanto, que a personalidade é adquirida através das impressões que vivenciamos, da educação que recebemos, das experiências que acumulamos em nossa passagem pela Terra.
Abrimos aqui um parêntese para lembrar a importância da construção de um lar, do ninho que irá receber o pequeno ser que formará sua personalidade de acordo com o ambiente em que crescerá. No mais humilde casebre podemos encontrar a luz enquanto que nas suntuosas residências podemos nos deparar com a escuridão. A palavra boa e terna, os exemplos e a orientação espiritual forma o homem de bem independentemente do valor material do teto que o abriga e agasalha.
A personalidade pode sofrer freqüentes mudanças, basta para tanto que mudem também as condições em que vive o homem, no entanto, a essência permanece a mesma. Ela é luz e jamais será treva. Poderá e deverá aumentar sua luminosidade, mas, nunca diminuirá a chama inicial.
Assim, embora a essência já tenha nascido conosco, ela pode crescer, se desenvolver, se aprimorar ainda mais, desde que a personalidade se eduque e deixe de pressioná-la. A personalidade pressiona a essência porque é muito forte. Exemplificando para maior compreensão podemos dizer que a personalidade é como uma carcereira da essência. Ela, a personalidade, envolve a essência como se fosse um escudo de forma que nada chega à mesma diretamente. A prisioneira (essência) só recebe as visitas após passarem e serem avaliadas pela carcereira . Desse modo, sob as ordens da severa carcereira a essência não pode crescer. Todavia, se a personalidade se tornar mais transparente, mais maleável, as impressões e influências externas poderão passar por ela e chegar até a essência. Aí, sim, aquilo que somos, a nossa essência, poderá crescer. Esse crescimento é a razão dos múltiplos renascimentos, das inúmeras reencarnações que nos submetemos.
Essência e personalidade, na maioria das pessoas, encontram-se tão agregadas entre si que essa divisão que hoje estudamos parece inexistir, estando, tão somente, no campo teórico. Essa divisão – essência e personalidade – melhor se observa em crianças de tenra idade em que a essência é mais forte que a personalidade. Bem por isso, a agradável sensação que nos passa um bebê no colo materno cujos olhos são reflexos da alma ou da essência. Dizemos que a personalidade ainda não aprisionou a essência.
Assim falando parece que estamos recomendando uma batalha contra a personalidade. Não é essa nossa intenção, mesmo porque, a personalidade ainda que criada sobre bases erradas, exerce certa proteção e passa a ser útil e boa a partir do momento que começa a se educar.
Na realidade é a personalidade que busca o conhecimento, que quer trabalhar e mudar para melhor. O desenvolvimento da personalidade se dá pelo estudo e diminuição das funções inúteis que a tornam doentia. Se a personalidade oprime a essência, dizemos que ela é anormal. Todos nós, com raras exceções, ainda possuímos uma personalidade patológica, doentia.
Como já é de nosso conhecimento, o conteúdo do centro intelectual de cada um de nós, não nasceu conosco. Nossos pensamentos, opiniões, idéias e convicções são coisas que adquirimos no decorrer de nossas vidas. Tomemos como exemplo uma emoção desagradável que surge em determinadas situações, como a raiva, a inveja ou o ciúme. Qual a utilidade dessas emoções? Na realidade, nenhuma. Essas emoções consomem energias e tornam a vida muitas vezes insuportável. Para lutar contra tais emoções precisamos perceber que nos alimentamos da autojustificação. Não percebemos que procuramos sempre nos justificar, lançando a culpa sobre outras pessoas. Ou procuramos nos justificar por tais emoções, encobrindo nossa falta de autoconfiança. No entanto, se passarmos a estudar nosso comportamento, a descobrir a causa de nossas atitudes em vez de justificá-las e se passarmos a incutir em nós próprios que tais emoções são ruins e inúteis em nossa vida, passaremos a ter novas idéias a esse respeito, tornando-as permanentes e finalmente, vencendo a raiva, inveja ou o ciúme, diminuindo funções inúteis que tornam a personalidade doentia.
Podemos, pois, concluir que a personalidade pode ser controlada pela mente. Estabelecemos a meta em nossa mente e nossa personalidade passa a trabalhar de acordo com ela. Mas, tudo isso se dará através do desejo de despertar. E como acontece o desejo de despertar? Por que só poucos homens podem se desenvolver e encontrar em seu interior as possibilidades ocultas que levam ao despertar? Por que algumas pessoas têm oportunidade e outras não?
Nós seres humanos, todos nós vivemos sob dois tipos de influências, quais sejam, as influências “A” e as influências “B”. As influências “A” são aquelas criadas pela vida, tais como o desejo de riqueza, fama dentre outras tantas. As influências “B” chegam ao homem através da religião, da filosofia e da literatura. As influências “A” são mecânicas enquanto que as influências “B” podem passar despercebidas aos homens, ou eles podem ouvir falar delas e até pensar que as compreendem. Podem fazer uso de suas citações, de suas palavras, contudo, podem não ter absolutamente compreensão real delas.
Ou seja, papagaios repetindo e repassando informações sem compreendê-las realmente. São essas duas influências que irão, na realidade, direcionar e decidir o desenvolvimento posterior do ser humano. Se o homem for acumulando as influências “B”, elas se cristalizarão e formarão nele um certo tipo de centro de atração, ao qual podemos denominar de centro magnético. O desejo de despertar encontra-se relacionado com esse centro magnético. É o centro magnético que ajuda o homem a desenvolver estados de consciência que o levam ao despertar. Se esse centro magnético crescer, com o tempo o homem deverá encontrar outro homem ou um grupo de homens através dos quais poderá adquirir novas idéias que denominaremos de influências “C”.
Como já mencionado, as influências “B” nos chegam através dos escritos, livros, correntes filosóficas e assemelhados, todavia, as influências “C” só chegam ao homem pelo contato direto com outros homens ou grupos. Assim, quando o homem entra em contato com as influências “C” dizemos que esse homem deu o primeiro passo para seu desenvolvimento, para a cura de sua personalidade.
Quando passamos a trabalhar para obter a cura da personalidade, ela, dia a dia vai se tornando sadia. E, importante que se observe que não existe recaída. Depois que iniciamos nossa jornada em busca da melhoria de nossa personalidade não existe volta ao ponto de partida. Não existe volta porque cada passo dado, cada descoberta, cada constatação de que estamos mudando para melhor ao investir em nós mesmos nos trás uma imensa realização pessoal. Somos nós em busca de nós mesmos. Somos nós diante de nós mesmos, sem avaliação do mundo. Somos nós erguendo os olhos em direção da Luz. Somos nós proporcionando o crescimento de nossa essência.
Com amor,