É fácil conviver com quem é calmo, é fácil ser atencioso e gentil com quem é bem humorado, é fácil amar o amável.
Nós que pretensiosamente pregamos a caridade costumamos ser caridosos sim, geralmente com aqueles que são “fáceis” de tratar, de conviver e que tornam possível a prática da caridade segundo nosso entendimento. Se convivemos com prazer com pessoas tranqüilas, perdemos nossa tranqüilidade, nossa paciência ao lidar com aqueles que têm temperamento difícil e gênio exacerbado.
Podemos afirmar que em nossos dias a generalidade é que em cada família existe pelo menos uma pessoa mal-humorada, arrogante, grosseira, teimosa, intolerante, amarga, chata e geralmente melancólica. Difícil encontrar alguém que jamais tenha tido mau humor. O problema é quando o mau humor se torna uma regra. Em nossos dias, 180 milhões ou 3% da população mundial sofre de mau humor patológico.
Podemos, sem querer entrar no campo da psiquiatria e psicologia, considerar mau humor como um dos sintomas do mal humor, que é escrita com U quando for uma qualidade contrária ao bem humorado e mal com L uma característica de doença, contrária ao humor sadio. A maioria das pessoas consideradas mal-humoradas podem ser classificadas como portadoras de “Distimia”. A Distimia é um quadro depressivo crônico, incluído na Classificação Internacional de Doenças como transtorno persistente de humor. É muito difícil e desagradável conviver com uma pessoa que tem esse transtorno de personalidade. O mal-humorado sofre e causa sofrimento às pessoas com as quais convive. As pessoas com tal transtorno de personalidade são naturalmente aborrecidas e se contrariadas em algo, tornam-se bastante desagradáveis.
É compreensível que nossa tendência seja a de ganhar distância daqueles que possuem esse transtorno de personalidade, essa doença que tanto faz sofrer seus portadores. O mal-humorado lembra um animal ferido que se esconde para lamber um ferimento e que se torna agressivo se alguém se aproxima, pois, tem medo de ser tocado no local da dor. O ataque verbal nada mais é que uma defesa . Tem medo que lhe toquem a alma ferida por problemas que desconhecemos e que o mesmo às vezes também desconhece totalmente. Por isso, agride para não ser agredido. Recebe muitas críticas e acusações por conta de seu problema, enquanto que uma palavra boa, um incentivo ou elogio raramente é recebido. Quanto mais é acusado, mais recolhido em si mesmo se torna. Seu coração é triste, seu ar é cansado e não sabe sorrir. Não conhece a alegria, não tem ânimo para cantar.
É possível que tenhamos em nossa família um mal-humorado crônico, vítima dos tempos atuais, verdadeira indústria de transtornos psicológicos no ser humano. Partindo do princípio de que ninguém é mal-humorado porque quer, e de que devemos amar nosso próximo como a nós mesmos, qual a melhor maneira de conviver com uma pessoa assim considerada?
Precisamos, primeiramente, estudar o perfil daquele que passaremos a analisar. Já levanta reclamando porque faz calor? O café não está de seu gosto? O Governo é o responsável por seu desânimo e fracasso? É um injustiçado? Os familiares são a causa de sua infelicidade? Uma vez identificado o problema de nosso familiar urge que passemos a tratá-lo de forma que a ferida de sua alma seja delicadamente tratada para que finalmente cicatrize.
E se mudássemos o tom de nossa voz ao falar “bom dia” fazendo-a soar agradavelmente? Que tal observarmos a reação do mal-humorado quando lhe dizemos que ele fica muito bem com aquela cor de roupa? Certamente se experimentarmos isso, teremos a agradável surpresa em ver agradavelmente surpreendido aquele que até então tem sido constantemente repreendido. A substituição da crítica pelo incentivo pode ser o primeiro passo para que o mal-humorado inicie a mudança de sua postura, desperte para a realidade, tomando consciência do transtorno psicológico que possui, quando então, certamente procurará ajuda especializada para sua cura.
Assim, descobriremos que a caridade começa em nosso ambiente familiar. Nosso primeiro compromisso é com nossa família. Feito isso, vamos descobrir em nosso caminho dezenas, centenas de mal-humorados. Descobrir que o mau humor crônico é produto de um transtorno psicológico, nos torna responsáveis pelo sorriso de cada um casmurro que encontrarmos em nossa jornada terrena.
Isso é compaixão. Isso é caridade.
Com amor,
Irmão Savas