Meu irmão,
Quando iniciamos a jornada do autoconhecimento, nós dois sabíamos que as tarefas daí advindas não seriam fáceis de enfrentar. Na realidade iniciamos um curso onde somos alunos e professores um do outro. Ao te observar, aprendo. Quando lês aquilo que escrevo, também aprendes. Nosso silencioso curso não se resume numa crônica onde teus olhos possam passar ligeiros como passam as aves no céu e se perdem no horizonte. Muitas revoadas têm que ser realizadas sobre o material aqui depositado para que possamos empreender nossa jornada interior. Precisamos do autoconhecimento para evoluir. A evolução de cada um de nós depende da nossa compreensão daquilo que possamos adquirir e do que precisamos dar para isso. Se não desejarmos a evolução, ou se não desejarmos evoluir com bastante intensidade, se não fizermos esforços necessários, nunca nos desenvolveremos e jamais evoluiremos. Estaremos adormecidos.
Precisamos, portanto perseverar na jornada em direção ao centro de nós mesmos, à nossa casa interior. A perseverança compreende a continuidade dos esforços feitos na viagem empreendida, apesar das dificuldades e dos incômodos, sem os quais jamais chegaremos a despertar desse sonho em que vivemos.
Precisamos, portanto, ler e reler nossas crônicas, meu irmão. Sempre que possível, leia a primeira, a segunda, ou a vigésima crônica. Releia aquilo que juntos já analisamos, pois, a segunda leitura é sempre melhor que a primeira. Veja, por exemplo, a crônica intitulada “gerenciando nossas emoções”. Lá está assim escrito:
(…)
“nós humanos, se observados através de uma visão energética, podemos afirmar que estamos organizados basicamente em sete centros, quais sejam: centro intelectual, centro instintivo, centro motor, centro emocional, centro sexual, centro emocional superior e centro intelectual superior. Cada um destes centros são responsáveis por energias diferentes que percorrem e comandam nossos instintos, sentimentos, pensamentos e atitudes”.
Todas as emoções se originam em centro instintivo, sendo criadas, portanto, com material tirado do centro instintivo. Todavia, esse material que pertence legitimamente ao centro instintivo é indevidamente tomado emprestado dele. Como já deves ter observado, meu irmão, a situação é bastante original ou mesmo curiosa, uma vez que as emoções positivas não pertencem ao nosso centro emocional comum e sim ao centro emocional superior. E as emoções negativas, deves estar pensando, pertencem ao centro emocional comum. Eu te afirmo, meu irmão que me foi ensinado que nossas emoções negativas não pertencem ao centro emocional comum , uma vez que existem num centro artificial. O centro emocional artificial que não foi criado com os demais centros mencionados, toma material emprestado do centro intuitivo que juntamente com a parte negativa do centro instintivo que é somada a imaginação e a identificação faz nascer a emoção negativa.
Deves ter ficado curioso, desejando saber mais sobre o centro emocional artificial mencionado naquela crônica. É hora de abordar o assunto mais uma vez para tornar mais claro o que seja esse estranho centro.
Alguns dos sete centros acima indicados, como observaremos com o tempo e muito estudo, podem ser divididos em duas importantes partes, quais sejam, uma parte positiva e outra parte negativa. Essa divisão da qual falo pode ser bastante perceptível nos centros intelectual e instintivo.
O centro intelectual trabalha com o “sim” e o “não”, ou seja, com afirmação e negação. Assim, podemos sintetizar que o trabalho exercido pelo centro intelectual baseia-se na comparação.
O centro instintivo, por sua vez, divide-se em prazer e dor. A vida instintiva, pois, é conduzida pelo prazer e pela dor.
Já o centro emocional, se observado superficialmente, poderíamos dizer que também ele se encontra dividido em duas partes, sendo uma de emoções agradáveis e outra de emoções desagradáveis, ou como afirmamos na crônica acima mencionada, emoções positivas e negativas. Todavia, um estudo atento nos mostraria que essa afirmação não é correta. As emoções positivas ou agradáveis pertencem ao centro emocional superior enquanto que as emoções negativas ou desagradáveis não possuem um centro específico. Por quê? Eu te respondo de uma forma simplista, afirmando que Deus ao nos criar não estragaria sua obra mais perfeita – o homem – dotando-o com um centro emocional inferior capaz de abrigar emoções negativas tais como o ciúme, o medo, o ódio, a cólera e a inveja, dentre muitas outras. Se Ele nos criou a Sua imagem e semelhança, somos feitos de amor, não possuindo um centro emocional inferior.
Nossas emoções negativas, todas elas, sejam violentas ou de depressão, e geralmente a maior parte de nosso sofrimento mental têm a mesma natureza. Essas emoções não são naturais e nosso organismo não tem um centro real e verdadeiro para elas. As emoções negativas se realizam com a ajuda de um centro artificial – uma espécie de tumor que passa a ser criado em nós de forma progressiva desde a mais tenra infância, pois, uma criança que cresce num ambiente formado por pessoas que vivenciam constantes emoções negativas, passa a imitá-las e torna-se também emocionalmente negativa. Nós próprios, pois, criamos esse nosso centro emocional artificial onde passamos a armazenar nosso ciúme, nossa raiva, nossa inveja, nosso medo, nossa mágoa, enfim… Nossas emoções negativas.
Para melhor compreensão passamos a exemplificar. Suponhamos que lá atrás, em nossos antepassados, um drama familiar tenha se desenvolvido. Mãe e filha sentem medo do homem genioso, raivoso, ciumento e agressivo que vive emoções pesadas e negativas. A mãe, não tem com quem desabafar, sem conhecimento dos danos que poderia trazer à filha, faz dela sua confidente colocando-a a par de suas mágoas, de seus medos e de sua raiva contra o marido. A menina em tenra idade vê o padrasto batendo na mãe e os ferimentos daí advindos. Não bastasse isso, também ela é alvo de espancamento por parte daquele que ocupa o lugar de seu verdadeiro pai. Dia a dia vai se formando nessa criança – a nível emocional – uma espécie de tumor ou de calo que abriga essas emoções negativas. Assim, nasce o centro emocional artificial.
A criança que foi contaminada pelas emoções negativas do ambiente familiar e que conseqüentemente desenvolveu raiva, ressentimento, medo e insegurança também casa e forma sua família. A bagagem de emoções negativas leva consigo. Seus filhos passam a imitá-la e criam seus centros emocionais artificiais para abrigar as emoções copiadas. Mãe, filha e netos são dominados pelas emoções negativas e como não poderia deixar de ser, disputam entre si quem tem a última palavra. Desentendimentos, separações, mágoas… Cada qual se achando inocente e apontando culpados. Egos inchados pelo sofrimento que passam a contaminar e inchar outros egos.
A cadeia, os elos dessas emoções negativas precisam ser rompidos para que esse sofrimento emocional tenha fim, pois, ninguém é feliz vivenciando emoções negativas. Se algum membro desse clã conseguir vislumbrar o que vem acontecendo poderá recolher o fio do carretel para que se inicie o resgate daqueles que ainda possuem um mínimo de humildade para reconhecer que podem e querem mudar. Assim procedendo impedirá que os novos membros dessa família ingressem nessa mesma jornada de sofrimento, onde não existem culpados, mas, tão somente vítimas. Necessário se torna a mudança de atitudes.
A mudança de atitudes tem início quando passamos a ter consciência de nós mesmos. A consciência de si mesmo, porém, por si só, não proporciona conhecimento. O conhecimento deve ser adquirido pouco a pouco. Se pudéssemos dosar conhecimento e consciência, diríamos que nenhuma dose de consciência pode proporcionar conhecimento, assim como nenhuma dose de conhecimento nos dará consciência. Porém, ao nos tornarmos conscientes passamos a ver coisas que antes não havíamos percebido. Assim, devemos empregar um esforço enorme capaz de nos manter conscientes. Para tanto, necessitamos destruir obstáculos para que sejamos realmente emocionais. Ser mais emocional significa vivenciar nossas emoções superiores que nos tornam legítimos filhos de Deus. Se ainda não somos suficientemente emocionais é porque estamos desperdiçando energia com identificação, na atitude crítica, no ciúme, na mentira, na mágoa, na raiva e outras tantas emoções negativas.
Quando vivenciamos emoções negativas estamos adormecidos, em estado de letargia. Precisamos acordar e lembrar de nós mesmos. Sempre há tempo para a cura interior. Basta querer. Querer muito.
Com amor,
Irmão Savas