Que a paz de Deus esteja em teu coração, meu irmão, pois, hoje venho falar Dele, o nosso Pai.
Falar de Deus? Ora, me dirás, tantas religiões falam em Deus, tantos livros falam Dele, e eu próprio já sei tanto desse Deus que está nas alturas! Que mais poderia saber sobre Ele? Dirás talvez, que fazes uma pálida idéia da aparência de Deus, fazendo-me pensar que o imaginas velhinho, de barbas brancas, expressão grave, sisuda, como estivesse a te repreender. Assim te falo, porque esse era o Deus que segundo minha imaginação da época, me olhava lá de cima. Tão distante Ele estava de mim! Pudera! Com o medo que tinha Dele, não Lhe dava oportunidade para que descesse das alturas onde eu o tinha colocado. Sim, meu livre arbítrio assim escolheu: – Deus lá e eu aqui.
Ainda estando tão distante, houve uma época em minha vida que senti a necessidade de querê-Lo perto, pois, queria matar a saudade grande que existia em mim. Eu tinha saudade de Deus e por isso passei a buscá-Lo, tornando-me, no bom sentido, seu tenaz perseguidor. Tornei-me um estudante de Deus. Do cristianismo passei a ler sobre budismo e o esoterismo. Fui estudar história e teologia. A meditação que me impus, não me trouxe conforto, pois, minha mente tagarelava e Deus continuava lá e eu aqui.
Por que essa distância entre nós, se queria tanto estar ligado a Deus? Compreendi finalmente que precisava “desaprender” tudo que havia aprendido sobre meu Pai para amá-Lo com o coração e não com as palavras. Era preciso perder o medo de Deus, pois, o medo não me deixava chegar até Ele. Era preciso acender a fé dentro de mim, apagando aquela “fé fabricada” que me era imposta desde pequeno. A fé genuína, fruto do amor, nasce espontaneamente quando conseguimos nos livrar do sentimento que estamos sendo cobrados por Deus. Deus não cobra, não te castiga, não te quer sofredor porque Ele é Pai. As religiões por causa da disputa pelo poder inventaram uma forma para manter Deus em cárcere privado ainda que cheio de vitrais coloridos e pisos lustrosos. Mantendo-o assim, longe do coração dos homens, esses poderiam ser manipulados e chantageados em troca de um lugar no paraíso quando os olhos fossem cerrados para sempre. Essa é a indústria da fé. Essa é a fé cega.
Com esteio nessa precária e rotulada fé, ainda em nossos dias, muitos passam a comercializar com Deus chegando a buscar uma pureza doutrinária como se tal atitude fosse possível torná-los melhores aos olhos do Criador. Estudos da Bíblia, discursos abrasadores, debates e opiniões divergentes, tudo qualificando a Fé e o amor à Deus. E Ele continuando lá e nós seus filhos, aqui. E o caminho para a Casa Paterna cada vez mais distante e impossível de percorrer. Andei por todos esses caminhos, meu Irmão. Rodeado de caminhantes iguais à mim, permanecia longe de Deus. Finalmente, sem encontro marcado, encontrei Deus e percebi que Ele era amor, só amor. Foi então que perdi o medo de Deus, pois, medo e amor não podem caminhar de mãos dadas.
E como se descobre o amor “por e de” Deus dentro de nós? Amando, meu Irmão, primeiramente a ti mesmo. Quando te perdoares por teus erros desejando nunca mais repeti-los, passaras a gostar de ti. Amando a ti, deixarás de ter rivais passando a amar teus irmãos da mesma forma como te amas. E meus desafetos, meus inimigos, como poderei amá-los se me causam tanto mal, me perguntarás. E eu te responderei que enquanto não puderes trazê-los para dentro de teu coração, enquanto não puderes abraçá-los com os braços de tua alma, simplesmente adote o ensinamento de nosso Mestre Jesus que em outras palavras te diria para não fazeres ao teu próximo nada daquilo que não gostarias que te fizessem.
Quando estiveres pronto para amar descobrirás um Deus terno e não aquele Deus vingativo conforme foste ensinado, chegando inclusive, a temê-lo. Sobre a doçura, a ternura de Deus só conseguimos expressar quando sentimos que Ele está dentro de nós. É aí que Ele reside. Essa é a Casa de Deus. Não podemos aprisioná-lo entre paredes, mantê-lo em cárcere privado como muitas religiões o fazem, pois, Deus quer estar no vento, na chuva, nas flores e em teu coração. Quando Ele está em teu interior podes levá-lo a passear contigo. Em teu caminho, todos sentirão a presença Dele, pois, tua atitude é mansa, humilde, sorridente e feliz. Quando Deus vem repousar em nosso interior, nossos olhos, as janelas da alma, brilham de amor. Pois, o Amor está dentro de nós. E quando isso acontece, vemos os “problemáticos” de outra forma. Deixamos de perder a paciência com eles e procuramos desvendar seus olhos para que consigam vislumbrar a mesma luz que nos norteia a viver melhor, a sorrir com vontade e até gargalhar, pois Deus também é felicidade.
Quando estamos repletos do amor de Deus passamos a ser mansos, serenos e caridosos sem a necessidade de testemunhas, pois, é gratificante amar. O amor se basta.
É em nome desse amor, meu querido irmão, que peço à meu Pai que te abençoe para que tenhas a paz que mereces e que te sintas amado como jamais imaginaste ser. Mantendo Deus como inquilino de teu coração, nada mais precisas para ser feliz.
Com amor,
Irmão Savas