De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade não se derrama sangue; somente se constroem cercas e cercas, que passam a sufocar e a nos afligir por dentro.
A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
Aqueles que buscam incessantemente satisfazer e agradar a todos, recebem os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas vivem esmagados por uma falsa atmosfera, onde demonstram virtudes que, na realidade, não possuem. Por buscarem elogios constantes, colecionando reverências e sorrisos forçados, acabam pagando um preço muito alto por isso: passam a viver distantes de si mesmos.
A causa básica do “autotormento”, consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.
Para vivermos bem conosco mesmos, é preciso estabelecer padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer “não sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não cometer erros, pois a censura e a depreciação são o que mais a atemorizam. Esquecem-se de que os erros são formas muito significativas de aprendizagem, fazendo com que tenhamos a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos, assimilando os ensinamentos das lições vivenciadas.
Quem busca crédito e popularidade, não julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros esquecendo que se optar por viver e seguir seus próprios passos, poderá até encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança de espírito.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado e aceito por todos aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienável e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
A fixação que temos que olhar o que os outros acham ou acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos e almejamos, é o que promove a destruição de nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por consequência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.
A solução para a autocrueldade, será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da natureza”. Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.
Autor: Francisco do Espírito Santo Neto – pelo Espírito Hammed – extraído do livro “As dores da Alma” (http://www.boanova.org.br/).