“Mágoa não elaborada se volta contra o interior da criatura, alojando-se em determinado órgão e produzindo somatizações, notadamente, na formação de displasias e tumores.”
Ao afirmarmos: “Ninguém nunca conseguirá me magoar”, não queremos dizer que não damos o devido valor aos nossos sentimentos, que não nos importamos com o mundo e que não valorizamos as criaturas com quem convivemos.
Querer “não sentir dor”, pode dessensibilizar as comportas dos nossos mais significativos sentimentos, inclusive atingindo de forma generalizada, nossa capacidade de amar. Muitas vezes, queremos representar que possuímos uma segurança absoluta quando, na realidade, todos nós somos vulneráveis de alguma forma. Nosso estilo de vida, em muitas ocasiões, é ilógico e neurótico.
O “querer viver” uma existência inteira desprovida de decepções e ingratidão, com aceitação e consideração incondicionais, é desastrosamente irreal.
É profundamente irracional nutrir a crença de que nunca seremos traídos e de que sempre seremos amados e entendidos plenamente por todos. Portanto, não podemos passar uma vida inteira ocultando de nós mesmos que nunca ficaremos magoados. Devemos, sim, admitir a mágoa quando ela realmente existir, para que possamos resolver nossos conflitos e desarranjos comportamentais.
A maneira decisiva de atingirmos o equilíbrio interior, é aceitarmos nossas emoções e sentimentos como realmente eles se apresentam, pois, deixando de ignorá-los, passaremos a nos adaptar firmemente à realidade dos fatos e dos acontecimentos que estamos vivenciando. O que não pode ser visto, não pode ser mudado.
Os mecanismos inconscientes dos quais nos utilizamos para nos enganar são em grande parte imperceptíveis, principalmente àqueles que não iniciaram ainda a autodescoberta do mundo interior, através do auto-aprimoramento espiritual. Ignorar o sentimento de mágoa pode, muitas vezes, parecer um simples esquecimento natural, mas também poderá ser visto como atividade psicológica para afastar de nosso dia-a-dia, detalhes desagradáveis que não queremos admitir. Para não tomarmos consciência de que ficamos magoados, simplesmente não notamos uma série quase infinita de fatos e feitos que demonstrariam, de forma segura, o ofensor e a intenção da ofensa.
O ato de ignorar é uma defesa que apaga somente uma parte do ocorrido, deixando consciente apenas aquilo que nos interessa no momento. O fato de criarmos o hábito de desviar a atenção como forma de dispersar a dor da agressão e de isso funcionar muito bem em determinados momentos expressivos de nossa vida, mantendo a mágoa dissimulada, poderá se tornar um estilo comportamental inadequado, pois distorce a realidade de nossos relacionamentos.
Mágoa não elaborada se volta contra o interior da criatura, alojando-se em determinado órgão, tornando-o doente. Mágoa se transforma com o tempo em rancor, exterminando gradativamente nosso interesse pela vida e desajustando-nos quanto a seu significado maior.
A mágoa é um sentimento de frustração no qual a emoção está sob relativo controle da razão. Ou do ressentimento, quando a emoção sobrepuja a razão. Ou ainda, do ódio e da vingança, quando a emoção e a razão já desencadeiam ação e atitude.
As interpretações emocionais da frustração, dependendo da intensidade e da freqüência com que são geradas, produzem somatizações, notadamente, na formação de displasias e tumores. Muitos portadores de câncer, por exemplo, são pessoas no mínimo magoadas, e esse sentimento gera por indução ou imantação, um campo energético adequado ao desenvolvimento da doença.
Com as devidas ressalvas, a mais eficaz vacina contra qualquer tipo de câncer, é treinar aprender a perdoar e a relevar as atitudes do próximo, nada esperando dele além do que ele tem a nos oferecer, compatível com seu grau de evolução.
Assim não se formam expectativas nem frustrações seguidas de mágoas, ressentimentos, ódio e vingança, que sempre acabam em somatizações. Sentimentos não morrem. Podemos enterrá-los, mas mesmo assim continuarão conosco. Se não forem admitidos, não serão compreendidos e, conseqüentemente, estarão desvirtuando a nossa visão do óbvio e do mundo objetivo.
Autor: Francisco do Espírito Santo Neto – pelo Espírito Hammed – extraído do livro “As dores da Alma” (http://www.boanova.org.br/).