Meu bom Irmão,
Não faz muito tempo que deixei aqui registrado que nós humanos possuímos deficiências, as quais embargam, de certo modo, nosso crescimento espiritual. Tais deficiências para certas religiões e filosofias são denominadas de pecados. Essa diferenciação de terminologia, contudo, deixa de existir quando se conclui por unanimidade que a maior deficiência ou pecado do ser humano é o orgulho exacerbado.
O orgulho quando bem dosado pode ser chamado de um sentimento de satisfação pela capacidade ou realização. Pode ser considerado como um sentimento elevado de dignidade, de brio pessoal. Assim, o termo pode ser empregado tanto como sinônimo de soberba e arrogância quanto para indicar dignidade ou brio. No momento, meu Irmão, vamos tratar do orgulho exacerbado que nos causa tanto mal.
O orgulho é a deficiência principal ou capital que origina, que gera todas as demais deficiências. Há deficiências que influem sobre as demais, enquanto que outras, não obstante sua gravidade, não geram novos pecados, por assim dizer. O homicídio, por exemplo, não é considerado um pecado ou deficiência capital porque não gera mais nada. Termina na morte. A ira, no entanto, gera o homicídio.
O orgulho em excesso pode gerar a vaidade, a ostentação, a soberba e por fim a arrogância.
O orgulho que gera a vaidade faz com que a vida seja vivida para os outros e não para si próprio. Tudo é uma representação. O vaidoso utiliza-se da comparação, onde para seu conforto enxerga as pessoas mais pobres, feias e infelizes que ele próprio. Para seu desgosto, sempre encontra pessoas acima dele, com mais beleza, inteligência ou riqueza que aparentemente é mais feliz. A vaidade, portanto, leva-nos a comparação com aqueles que estão abaixo de nós e a inveja nos leva a comparação daqueles que estão acima de nós.
A vaidade é o maior preço que pagamos em qualquer situação. A falsa alegria é demonstrada nas festas com as roupas que se usa, no dia a dia com o carro novo, nas conversas onde se apura quem possui o aparelho eletrônico mais moderno. No mundo atual cada vez se torna maior a representação, o orgulho de si mesmo e a vaidade pelas próprias conquistas e sucesso pessoal. A cada dia aumenta a valorização do orgulho por si mesmo que é denominado de autoestima ao passo que a humildade passou a ser declarada como sinônimo de baixa estima. As pessoas humildes passaram a ser qualificadas como depressivas e donas de um ego raquítico. O orgulho, a vaidade, pois, ganharam a condição de virtude enquanto a humildade passou para a categoria de defeito.
Em assim sendo, os pais passam a estimular cada vez mais o orgulho e vaidade de seus filhos, enquanto preocupam-se em resolver os chamados defeitos daquilo que consideram baixa estima e que durante séculos foi chamada de humildade. No mundo atual aquele que tem humildade é confundido com o apático. Médicos, medicamentos e terapeutas procuram a cura do humilde implantando-lhe aquilo que acreditam ser autoestima. A cultura atual entende que ter autoestima é se jogar na arena da vida para obter o primeiro lugar. Assim, a vida passou a ser uma competição. Viver é competir para ser o melhor em tudo. O melhor do colégio, o melhor nos jogos, o melhor da festa, o mais bonito, o mais inteligente, o mais amado. O mundo é como um grande tabuleiro onde os homens combatem o tempo todo buscando o sucesso pessoal, buscando ser o melhor.
Na realidade, seríamos sim melhores seres humanos se abandonássemos a preocupação constante em ser melhor do que outras pessoas. No lugar de querer superar os demais, deveríamos buscar técnicas de superação de nós mesmos. Superar nossos problemas pessoais, nossos traumas de infância e adolescência, os amores mal resolvidos, a carência afetiva, enfim, buscando a evolução espiritual que nos torna verdadeiramente “mais e melhores”. Quando voltamos nossos olhos para nosso interior damos início ao curso intensivo de humildade. E uma vez formados nessa especialidade teremos olhos para ver que nada é mais belo que a humildade.
Com amor,
Irmão Savas
(Mentor do Núcleo Espírita Nosso Lar)