As pessoas estão, de uma maneira geral, insatisfeitas em maior ou menor grau e em frustração com a vida que têm levado, e possuem pouca habilidade para transformar a sua vida em algo mais significativo e mais expressivo. Temos percebido, cada vez mais, uma onda crescente de frustração invadindo as pessoas.
De uma maneira especial, as pessoas se queixam de sua maneira de viver, do seu corre-corre diário, do vazio que sentem, do tédio que as acomete. Ainda quando grandes esforços são feitos para parecerem felizes, as pessoas não conseguem esconder um grau excessivo de tensões, de fadiga, de cansaço e de ansiedade. Já não escondemos as nossas angústias, nossas depressões, nossas ansiedades, nossos problemas conjugais, nossos problemas de relacionamento afetivo e nossos problemas profissionais.
Isto significa que começamos a não aceitar, como natural, este estado crônico de desgaste, começamos a não achar natural todo esse processo avassalador do nosso interior. Cada vez mais, um número maior de pessoas começam a entender a necessidade de alguma mudança que permita uma vida mais satisfatória e mais significativa.
Se, por um lado, nossa época é, caracterizadamente, uma era de ansiedade, de pressa, de corre-corre, por outro lado, é tambem uma época em que as pessoas estão tomando consciência de quanto lhes é penoso viver desta forma. Muitas são as perguntas que, mais cedo ou mais tarde, formulamos a nós mesmos: Será que vale a pena? Será que o preço que estamos pagando vale realmente o que recebemos em troca? Será essa a melhor forma de viver?
O que há de errado comigo? Serei somente eu que estou passando por estes problemas?
De qualquer forma, tudo isso acontece ao homem moderno em decorrência de uma grave crise que atravessa o mundo de hoje. Somente os cegos não vêm acontecer nas suas vidas os sintomas claros daquilo que o americano Alvin Toffler chamou de Choque do Futuro. Nunca, em época alguma, o mundo passou por transformações tão rápidas e tão profundas.
Há uma impetuosa corrente de mudanças, uma corrente atual tão poderosa, que desagrega as instituições, sacode e altera os nossos valores básicos e faz secar as nossas raizes, os nossos fundamentos. A aceleração da mudança no mundo, em nossa época, é uma força elementar, é uma forca fundamental – o nosso mundo se baseia num violento processo de mudança. E esse impulso de aceleração, em todos os lugares e de todas as formas, oferece evidentemente consequências organizacionais, sociológicas e, sobretudo, consequências psicológicas.
Os problemas energéticos hoje emergentes, a devastação dos recursos naturais não renováveis, são apenas sintomas de uma devastação de uma outra energia, que é a energia humana. Nós também estamos diante de um processo de escassez de energia humana, dado o corre-corre, o estresse, a estafa, as contradições internas, os conflitos íntimos.
Talvez mais sério do que a crise energética, da falta de energia em termos de petróleo e combustível, seja o fato de que estamos chegando ao limite de um processo de utilização da energia humana. A sociedade tecnológica de um lado, desviculada dos valores naturais, começa evidentemente a se esvair, tais os reclames de toda ordem e de todas as partes. Sentimos uma grande transformação acontecendo no Mundo. Todavia, quando falamos em crise mundial, enchemo-nos de um profundo sentimento de esperança.
O desabrochar de uma nova era é prenunciado de todos os lados. Nunca se falou tanto em defesa e preservação da natureza.
Os processos místicos e religiosos aumentam em número cada vez maior. A procura do desenvolvimento psicológico, das mudanças de vida, nos é mostrada através do número crescente daqueles que procuram os consultórios de psicólogos e psiquiatras e os cursos de crescimento pessoal. Pelo mundo afora, é cada vez maior a criação de comunidades auto-sustentadas por por uma filosofia básica de contato com a natureza.
As pesquisas e revistas parapsicológicas, os os programas de televisão sobre assuntos místicos e fenômenos paranormais, tratando de como viver melhor, são inúmeros.
Tudo isso atesta, por um lado, a necessidade que já sentimos do desenvolvimento da nossa potencialidade e, por outro, o desabrochar de uma nova era, mais voltada para os aspectos humanos. À semelhança da semente que morre antes de nascer, no meio da confusão econômica e social do mundo de hoje, no meio de um mundo onde o homem se transformou em escravo do que criou, nós vislumbramos já os primeiros reflexos de uma era mais humanizada, mais livre, mais voltada para a espontaneidade e a naturalidade.
Nossos filhos já atestam uma nova percepção da vida e do mundo. Já são mais adaptáveis e revelam maior individualidade. Eles, provavelmente, questionarão mais o funcionamento do sistema social do que nos o fizemos antes. Naturalmente, eles desejarão ter dinheiro e trabalharão para obtê-lo, mas, a não ser em condições de extrema privação, deverão resistir à idéia de trabalhar só pelo dinheiro e resistirão a entregar sua vida em troca de sucesso, de prestígio e de status.
Acima de tudo, é provável que desejem atingir o equilíbrio em sua vida. Equilíbrio entre o trabalho e o divertimento, entre a produção e o consumo, entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, entre a ciência e a religião, entre a vida social e a vida pessoal, entre o avanço tecnológico e o desenvolvimento dos valores naturais, até mesmo entre seus pensamentos e seus sentimentos.
Sentimos o Mundo à beira de um fato histórico nos últimos momentos da evolução industrial e do nascimento da revolução humana. Contudo, ou as pessoas não percebem esse processo, os apelos para uma mudança de vida, e são envolvidas por ele sem consciência, ou então percebem tudo isso e ficam paralisadas, sem saber o que fazer ou como fazer. Torna-se cada vez mais claro para nós que somente através de programas individuais de crescimento, programas de desenvolvimento das próprias atitudes, será possível reequipar as pessoas para lidar com essas forças críticas.
As pessoas, regra geral, não aprendem isso e para o seu crescimento são necessários programas que lhes ensinem a viver mais adequadamente sua vida como pessoas humanas. Todos os problemas de relacionamento humano, no mundo de hoje, decorrem de uma paralização no crescimento das pessoas. Quando as coisas não vao bem no relacionamento das pessoas, inevitavelmente vamos encontrar pessoas acomodadas, desesperançadas, e sem mobilizar o mínimo de energia para o auto-desenvolvimento. São, em geral, pessoas que já se julgam perfeitas, que não percebem que fazem parte de um mundo em transformação e não compreendem que a lei da vida é a lei da mudança, a lei da renovação.
E quem quiser ser sempre o mesmo, não procurando o caminho do crescimento individual, é semelhante aquele que morreu, ou aquele que desperdiçou na vida o que ela tinha de mais intrínseco, que é a sua própria transformação, porque enquanto o homem permanece entre os vivos há crescimento e, portanto, há esperança.
Daí a nossa crença na importância de um processo que chamamos Desenvolvimento Comportamental.
Desenvolvimento comportamental é procurar respostas para algumas destas perguntas: – Quais são ainda nossos objetivos vitais? Quais são os nossos objetivos na vida? Qual é agora a nossa concepção de felicidade? O que entendemos por ser feliz? Quais são as nossas necessidades naturais e quais são as necessidades que criamos?
O desenvolvimento comportamental é uma tarefa individual, inalienável e pessoal. Consiste em nos reaparelharmos individualmente para lidarmos com as forças contraditórias de uma sociedade em crise, e ainda é nos ajudarmos a nos tornar mais disponíveis para a felicidade.
É tambem acreditarmos na possibilidade de um modo de viver melhor e de um modo diferente de viver melhor. É, sobretudo, nos reaparelharmos para lidar com os processos que hoje nos impedem de conquistar maior energia vital. Entre os processos que envenenam o nosso acontecer existencial, destacam-se os seguintes: o medo de perder; a obsessão do primeiro lugar; o compromisso com o sucesso; a competição crônica, refletida no sistemático cultivo da inveja; a loucura por controle; a depressão e a culpa.
Estas mensagens objetivam, pois, ajudá-los na reflexão e na mudança quanto a esses processos, mas isto vai exigir-lhes um compromisso pessoal, íntimo e total para com sua própria vida. Você é o único responsável pelo seu próprio aprendizado.
Mestre é aquele que aprende, não aquele que ensina, porque o maior ensino, o mais difícil, é o de ensinar a si mesmo, e ensinar a si mesmo é aprender. Estas mensagens são um meio e tão-somente um meio. Assim como qualquer outro instrumento, jamais poderão substituir a vontade e a paciência de cada um na senda específica e privativa do auto-crescimento.
Antônio Roberto Soares – Psicólogo