O calor abrasador do verão não tinha piedade dos homens que caminhavam pela estrada cuja poeira tornava-se dourada pelos raios do sol. Eles faziam o trajeto existente entre Jericó e Betel. O cansaço encontrava-se presente nos olhos de todos, inclusive daquele que parecia liderar o grupo de andarilhos. Enfim, a sombra amiga de uma árvore e um breve descanso antes de prosseguir a jornada. Era o momento perfeito para as perguntas dos discípulos e as respostas do Mestre.
Sim… É dele mesmo que falo, irmão meu. Por isso, peço que feches os olhos por um momento tentanto vivenciar a cena que te descrevo. Façamos de conta que estamos presenciando o momento vivenciado por Jesus e seus discípulos.
A voz firme do Nazareno se enche de ternura ao responder as perguntas que lhe são feitas. Homens rudes, sem cultura, mas, com limpidez de espírito, procuram entender aquilo que Jesus lhes fala. Para se fazer entendido, Jesus fala através de parábolas. Cria estórias sobre fatos do cotidiano para que seja compreendida a mensagem do Pai.
Como nas demais ocasiões, os ensinamentos de Jesus deixam claro que os homens precisavam despertar do sono em que vivem. Recomenda que conheçam a verdade, pois, só a verdade poderá libertá-los.
Os quatro evangelhos sobre a passagem de Jesus na Terra, são unânimes em afirmar que Jesus seguidamente ensinava: “Procurai e achareis”. Ensinava também àqueles que procuravam, que não desistissem até que achassem, pois, ao acharem ficariam maravilhados.
E os discípulos perguntavam:
– O que devo procurar?
– O Reino, respondia Jesus.
– E onde procurar o Reino, Mestre?
– O Reino está dentro de ti, respondia o Galileu. Não busques fora de ti mesmo, pois, não acharás.
Na verdade Jesus sabia que sua mensagem não seria entendida pela grande maioria dos homens. Não estavam prontos para a verdade, mas, Cristo sabia que divulgariam suas palavras com fidelidade depois que ele se fosse. Na realidade, nem nós, dois mil anos depois da passagem do Homem Luz neste Planeta, interpretamos com exatidão todo o tesouro contido no Evangelho. Tem muito ainda a ser descoberto e interpretado à respeito daquilo que Jesus pregou.
O Evangelho, pois, diz que o homem precisa despertar de seu sono e procurar o Reino de Deus e que esse Reino está dentro de cada um de nós, porém, não diz como se faz para despertar.
Ao longo dos séculos essas afirmações feitas por Jesus, têm sido estudadas e decifradas. Assim, nasceram as escolas que concluíram que Cristo, bem como filósofos que lhe antecederam, falavam sobre o desenvolvimento da consciência de si próprio, da unidade, do “Eu Superior” que nos remete ao Pai, enfim, ao Reino. Essas escolas procuram ensinar o caminho para dentro de nós mesmos. Todavia, por mais que se falou, escreveu e ensinou, não se obteve um método universal igualmente aplicável à todos que passam a se interessar pela jornada interior. A viagem para dentro de si mesmo é bastante difícil e requer muito esforço pessoal. Ela é própria de cada um. Porém, podemos estabelecer que o primeiro passo dessa caminhada em busca de si mesmo é ter consciência que estamos adormecidos. Precisamos ter consciência de nós próprios, de nosso interior, e assim conhecer a verdade sobre nós. Mas, isso é um ato de vontade. Vontade de estudar a si mesmo e descobrir o que existe de imaginário e de real, de verdade e de mentira sobre si próprio.
Ora, por certo me perguntarás, mentir para mim mesmo?
Sim, meu irmão! Bem por isso, hodiernamente se afirma que a psicologia é o estudo da mentira. Essa ciência dá particular atenção às mentiras que o homem conta sobre si mesmo e para si mesmo. O homem não é, pois, um artigo autêntico e sim uma imitação de algo. Aliás, uma péssima imitação. E é esse homem artificial que a psicologia estuda, pois, na realidade não conhece o homem real, já que ele próprio desconhece o que é real em si e o que é imaginário.
Diríamos, portanto, que o homem possui uma parte que é inteiramente real e outra que é inteiramente imaginária. Seriam, a essência e a personalidade. A essência seria aquilo que é inato no homem, que é dele próprio, um bem seu, enquanto que a personalidade seria adquirida, produto de aprendizado de modo consciente ou inconsciente.
Na verdade, a essência deveria sempre dominar a personalidade para se ter um homem são e normal. No entanto, quando a personalidade passa a dominar a essência, o homem já menos são inclína-se a gostar do que lhe é mau, e a recusar o que lhe é bom.
O ideal seria o equilíbrio onde essência e personalidade fossem sendo desenvolvidas paralelamente, não devendo uma prevalecer sobre a outra. Exemplificando, se a essência prevalecer sobre a personalidade teremos um homem que pode ser inteligente, extremamente bom, mas, inculto e simples. Se a personalidade prevalecer sobre a essência, teremos um homem culto, porém, sem as potencialidades da essência, num estado incompleto, com idéias falsas sobre si e sem qualquer vontade de conhecer a verdade sobre si mesmo. Conhecer a si mesmo seria abandonar a situação usurpada e assumir a situação inferior segundo seu entendimento.
A falta de equilíbrio entre a personalidade e a essência ocasiona a desarmonia no homem, sendo que a cura para esse estado seria o conhecimento de si próprio. O estudo de nós mesmos, é a principal matéria do curso que estamos frequentando, meu irmão.
Conhecer a nós mesmos vai muito além de nossas intenções, desejos, gostos e particularidades, uma vez que isso significa conhecermo-nos como máquinas, ou seja, conhecemos a estrutura dessa maquina que somos, cada parte e funções, as condições que regem seu trabalho e assim por diante. Precisamos, pois, observar e estudar a maquina que somos. É necessário aprender como observar as diferentes funções dessa máquina, dos diferentes estados de consciência e dos inúmeros “eus” que existem em nós.
Gostamos de alguns “eus” e detestamos outros. Algumas facetas de nós mesmos nos deixam surpresos e horrorizados. Se tornarmos constante a auto-observação passaremos a distinguir quais os traços que possuímos e que são favoráveis ao nosso desenvolvimento e quais aqueles que são prejudiciais ao desenvolvimento de nossa consciência. Por isso, anote suas qualidades que são favoráveis ao teu desenvolvimento. Anote também aqueles defeitos que impedem teu crescimento e desenvolvimento espiritual, tais como, a mentira, o ciúme, a maledicência. Estude teus comportamentos.
Nosso próximo encontro, provavelmente deveremos falar sobre os traços prejudiciais que o homem encontra em si mesmo, dificultando sua evolução e a descoberta do caminho que nos leva ao Reino Interior, aquele Reino que Jesus tanto falou.
Talvez entendas, meu irmão, que nossos encontros não têm trazido novidades e que os assuntos estão se tornando repetitivos sobre o conhecimento de si mesmo. Parece a primeira vista que estamos andando em círculos, contudo, precisas entender que o caminho para a descoberta do Reino que existe em cada um de nós, é feito de inúmeros passos. Muitas vezes precisamos retornar ao ponto de partida para que fique claro que ainda não nos conhecemos e que só a descoberta de nosso “Eu Real” nos leva à Deus.
Estamos repetindo aqui nesta página, propositalmente, alguns tópicos já abordados nas crônicas anteriores, inclusive na primeira delas, ocasião em que afirmamos:
O caminho para a cura interior tem início com a investigação e o conhecimento de nós mesmos. Isso, porém, falaremos outro dia, pois, no momento torna-se necessário um mergulho em nosso interior para exame do quanto servimos neste mundo, a quem servimos e qual o sentimento que nos trás o ato de servir.
O passaporte para a cura interior nos será deixado aqui nesta página. Na bagagem que carregaremos pelo caminho, não poderemos esquecer de colocar a paciência, a boa vontade e a perseverança. Cultivando esses estados mentais positivos, seremos, com certeza, conduzidos a uma melhor saúde mental e conseqüentemente à felicidade.
É necessário que se aqueça o motor antes da partida para que não fiquemos à pé na hora que se apresentar a íngreme escalada. Estamos frequentando um curso semanal, cujo tema, a descoberta de nosso “eu interior”, ou nosso “eu superior” ou ainda “Reino” precisa ser trabalhado, estudado e compreendido, caso contrário, será mais uma página em que os olhos percorrem, por vezes acham interessante, porém, no dia seguinte fica esquecida.
Hoje, na realidade, já conseguimos avançar um pouco mais sobre o conhecimento de nós mesmos. É quase imperceptível esse avanço. Não te inquietes e treine conhecer o teu verdadeiro “Eu”.
O homem que deseja encontrar o Reino do qual Jesus falou necessita viver uma vida completamente sincera consigo mesmo, e não se iludir com paliativos e camuflagens que lhe encubram a verdade sobre si próprio. Tenha paciência, pois, a fruta amadurece no momento próprio. Não caminhas sozinho, pois, a Espiritualidade Bondosa e Amiga te acompanha. O Amor que Deus te dedica pode ser sentido por ti, basta que prestes atenção. E NÃO ESQUEÇAS, EU SEMPRE ESTAREI CONTIGO.
Com amor,
Irmão Savas